ABDIAS DO NASCIMENTOS VENCE PRÊMIO FRANZ DE CASTRO HOLZWARTH
14/12/2005
ABDIAS DO NASCIMENTO VENCE PRÊMIO FRANZ DE CASTRO HOLZWARTH
O senador Abdias Nascimento é o vencedor do prêmio de Direitos Humanos Franz de Castro Holzwarth -2005, concedido pela OAB SP e que será entregue em sessão solene na próxima sexta-feira(16/12), às 18 horas, em sua sede, à Praça da Sé, 385. Receberão Menções Honrosas: o padre Rosalvino Mouràn Viñayo e a Ong SOS Carentes. A escolha dos vencedores é por eleição direta, da qual participam o presidente Fábio Romeu Canton Filho e todos os demais integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB SP. Em sua 22ª Edição, o prêmio mais uma vez faz jus a um dos mais aguerridos combatentes pela igualdade racial no Brasil, seja no Movimento Negro ou no Parlamento. Sem dúvida, a luta pelo fim da discriminação racial tem de ser uma responsabilidade partilhada por toda a sociedade, porque somente assim poderemos acabar com os efeitos maléficos do racismo, na busca de alcançarmos uma democracia racial efetiva, afirma o presidente da OAB SP, Luiz Flávio Borges D´Urso.
O ativista negro Abdias do Nascimento nasceu em 14 de março de 1914, em Franca, interior de São Paulo. Filho de uma doceira e de um sapateiro, Abdias estudou economia mas ficou conhecido pelas ações de valorização da cultura negra e contra o racismo. Diplomado em contabilidade pelo Ateneu Francano em 1929, transferiu-se posteriormente para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde bacharelou-se em ciências econômicas pela Universidade do Rio de Janeiro em 1938. Dramaturgo, ator, escritor e diretor, Abdias foi um dos fundadores da Frente Negra Brasileira, em 1931, e criou o Teatro Experimental do Negro (TEM), em 1944. Tem vários livros publicados, entre eles Orixás, Drama para Negros e Prólogo para Brancos, Sortilégio, O Negro Revoltado, Sitiado em Lagos, entre outros. Como ator, esteve ao lado de Cacilda Becker em Othelo, de Shakespeare, em 1946
Participou das revoluções de 1930 e 1932 e foi preso na década de 40 por em de atos de protesto contra o racismo em São Paulo. Dentro de sua cela, no Carandiru, criou o Teatro do Sentenciado, um dos embriões para o TEN, que surgiria anos mais tarde. Abdias foi um dos organizadores da Convenção Nacional do Negro, encontro realizado por dois anos no Rio e em São Paulo e que propôs à Constituinte de 1946 a tipificação da discriminação racial como crime de lesa-pátria. Participou também como organizador do primeiro Congresso do Negro Brasileiro, em 1950.
Concluiu o curso de sociologia no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) em 1956.
Também combateu o Estado Novo e foi obrigado a deixar o país durante a ditadura militar, quando mudou-se para os Estados Unidos, em 1968. Voltou 10 anos depois e participou da fundação do Movimento Negro Unificado e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), além de criar o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro)
Foi secretário de Defesa da Promoção das Populações Afro-brasileiras do Rio de Janeiro, em 1991,deputado federal, em 1983, e senador, em 1997. Suplente de Darci Ribeiro, Nascimento assumiu a vaga de senador depois que Ribeiro aceitou convite de Brizola para comandar o 2° Programa Especial de educação. É professor benemérito da Universidade do Estado de Nova Iorque e doutor honoris causa pelo Estado do Rio de Janeiro.Sua atuação como deputado foi centrada na defesa dos direitos humanos e civis dos negros no Brasil.
Procurando mostrar o racismo e a discriminação racial como questões nacionais, propôs a criação de uma Comissão do Negro na Câmara e também o estabelecimento de feriado nacional no dia 20 de novembro - aniversário de morte de Zumbi, como o Dia Nacional da Consciência Negra. Apresentou ainda um projeto de lei estabelecendo mecanismos de compensação para os negros ou afro-brasileiros, após séculos de discriminação, que previa a criação de uma cota de 20% de vagas para mulheres negras e de 20% para homens negros na seleção de candidatos ao serviço público. A proposta instituía ainda incentivos às empresas privadas para a eliminação da prática da discriminação racial, determinando também a incorporação ao sistema de ensino e à literatura de uma imagem positiva da família afro-brasileira, prevendo a inclusão no currículo escolar da história das civilizações africanas e do africano no Brasil.
Entre suas teses, destacam-se o quilombismo, que exige a preservação das comunidades remanescentes e apresenta a organização social dos quilombos como modelo de desenvolvimento alternativo; e o pan-africanismo, que incluiu a América Latina nas discussões sobre o racismo contra a idéia de democracia racial nos países sul-americanos.
O prêmio Franz de Castro Holzwarth foi criado no dia 8 de novembro de 1982 pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, para laurear, anualmente, aqueles que se destacam na defesa dos direitos humanos. O nome Franz de Castro Holzwarth é uma lembrança do advogado inscrito na OAB em 14 de julho de 1968, que dedicou a vida aos oprimidos, especialmente aos encarcerados.
Já receberam o prêmio Franz de Castro de Direitos Humanos da OAB SP:
1982 - JOSÉ GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI
1983 - JOSE CARLOS DIAS
1984 - HELENO FRAGOSO
1985 - PADRE AGOSTINHO DUARTE DE OLIVEIRA
1986 - PAULO CÉSAR FONTELES DE LIMA (IN MEMORIAN)
1987 - ULYSSES GUIMARÃES
1988 - VANDERLEI APARECIDO BORGES
1989 - FABIO KONDER COMPARATO
1990 - MARIA ELILDA DOS SANTOS
1991 - CACO BARCELOS
1992 - HERBERT DE SOUZA - BETINHO
1995- VICENTE PAULO DA SILVA
1996 - DOM PAULO EVARISTO ARNS
1997 - RABINO HENRY SOBEL
1998 - HÉLIO PEREIRA BICUDO
1999 - ANDRÉ FRANCO MONTORO (IN MEMORIAN)
2000 - PADRE JÚLIO LANCELLOTTI
2001 - DALMO DE ABREU DALLARI
PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO
RANULFO DE MELO FREIRE
2002 - KENARIK BOUJIKIAN FELIPPE
2003 - FERMINO FECCHIO FILHO
2004 - GOFFREDO DA SILVA TELLES JUNIOR
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