Representatividade

26 de setembro de 2023 - terça

OAB SP vai às ruas em defesa de mulher negra no Supremo

Além da OAB SP, participaram da manifestação cerca de 30 organizações civis, que assinam em conjunto carta ao presidente Lula

manifestação em defesa da indicação de uma mulher negra ao STF
Além da OAB SP, participaram da manifestação cerca de 30 organizações civis, que assinam em conjunto carta ao presidente Lula, destacando a importância da reivindicação

A OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo) participou nesta quarta-feira (20) de manifestação em defesa da indicação de uma mulher negra ao STF (Supremo Tribunal Federal), para a posição que ficará vaga a partir do dia 28 de setembro, em razão da aposentadoria da ministra Rosa Weber.

O movimento teve início pela manhã, na sede da seccional, no centro da capital paulista, e seguiu em passeata até o Largo de São Francisco, que abriga a Faculdade de Direito da USP, onde foi lida uma carta ao presidente Lula, assinada por mais de 30 organizações e ativistas.

A manifestação contou com o apoio de organizações, como a Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), a Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica de São Paulo (ABMCJ SP), a Associação dos Advogadas Trabalhistas de São Paulo (AATSP) e o movimento Me Too Brasil.

Em conjunto, as entidades assinaram uma carta ao presidente Lula destacando os motivos da reivindicação. O texto será protocolado junto ao gabinete da Presidência da República no próximo dia 25 de setembro.

“Quantas são as juristas negras? Doutrinadoras, desembargadoras? E advogadas a presidir as bancas de direito? É desse sistema de justiça que nós estamos falando, e é esse sistema que nós precisamos reestruturar caso queiramos uma Justiça que de fato seja para todos os cidadãos. Quando nós pensamos no STF e no STJ, nós não visualizamos uma mulher negra, porque raça e gênero têm determinado os papéis a serem desempenhados na sociedade brasileira”, pondera Dione Almeida, secretária-geral adjunta da OAB SP, que também se tornou a primeira mulher negra a presidir a entidade, de maneira interina, em agosto deste ano.

Para Patricia Vanzolini, presidente da Ordem paulista e primeira mulher a exercer o cargo em 91 anos da entidade, a falta de representatividade na composição de um tribunal como o STF é prejudicial não só para a para a sociedade, como também para a própria Justiça.

“Se eu não considero uma visão diversa, eu tenho uma visão enviesada, cheia de aspectos ausentes, e diversos setores da sociedade já entenderam isso. Uma mulher negra sabe de coisas que eu não sei, ela viveu coisas que eu não vivi. Portanto, a falta de diversidade deveria ser um problema, a gente deveria olhar para esse Supremo, repleto de homens brancos, e dizer ‘nós temos que resolver isso”, defende.

A mesa de direção do ato foi composta por Luanda Pires, co-fundadora do movimento Me Too Brasil; Eunice Prudente, secretária Municipal de Justiça da Cidade de São Paulo e professora da Faculdade de Direito da USP; Dione Almeida, secretária-geral adjunta da OAB SP; e Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP.

Além disso, outros ativistas, como Preta Ferreira; Roberta Eugênio, secretária-executiva do Ministério da Igualdade Racial e conselheira política da organização Mulheres Negras Decidem; Dimitri Sales, presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo); Paloma Bandeira, da Associação Nacional da Advocacia Negra; e Cláudia Luna, advogada e ex-presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB SP, participaram do ato na USP.

manifestação em defesa da indicação de uma mulher negra ao STF
Foto: Raphael Reche/Divulgação OAB SP

 

Carta ao presidente Lula

A carta, lida no ato pela advogada e professora Fernanda Perregil, conta com a assinatura de mais de 30 organizações e ativistas.

No texto, as entidades argumentam a defesa da indicação de uma ministra negra ao STF, colocando em perspectiva a história do sistema judiciário no Brasil e os aspectos demográficos da população do país.

“Necessário ressaltar que em 132 anos de existência, a Suprema Corte brasileira jamais teve uma mulher negra em seus quadros, apesar de representarem parte significativa da população do país (27%). Nesse contexto, a indicação de uma mulher negra para a vaga de Ministra do STF traduz a oportunidade de demonstrar à maior parte da população que o Brasil está evoluindo para a igualdade e a democracia. Sendo certo que a indicação de uma ministra negra marca a história como o avanço das mulheres negras na sociedade.”

Confira a carta e as assinaturas na íntegra aqui.

“Nesse sentido, é importante destacar, ainda, dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), sobre o percentual de 12,8% de pessoas negras na magistratura do Brasil, e pesquisa do Conselho Nacional do Ministério Público, indicando que mulheres negras e homens negros são apenas 6,5% e 13,2% do total de pessoas que ingressaram na magistratura brasileira nos últimos cinco anos. A presença de uma mulher negra na corte mais alta do país representa uma conquista da democracia e uma mensagem poderosa de inclusão e representatividade, de cima para baixo – lembrando que nos tribunais superiores são apenas 18 mulheres ocupando o posto de ministras para um total de 75 homens”, declara o texto, que vai ser protocolado junto ao gabinete da presidência da república no próximo dia 25 de setembro.

 

 

 


pub