
Em um dia dedicado à preservação da memória das pessoas pretas no Brasil, a OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo) concluiu, no último sábado (24) a sua 1ª Semana de Resistência e Memória Negra. Organizada pelas Comissões de Igualdade Racial e da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil, a semana proporcionou a todos uma reflexão indispensável: lembrar do passado, para não repetir no presente e futuro. A realização da semana contou com o apoio da CAASP (Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo), OABPrev-SP, SASP (Sindicato dos Advogados de São Paulo) e AASP (Associação dos Advogados de São Paulo).
Na abertura da palestra da advogada e pesquisadora Mabel de Souza, a secretária-geral adjunta da OAB SP, Viviane Scrivani, reforçou a oportunidade que as novas gerações têm de conhecerem a real história do povo negro escravizado no Brasil. “Que a gente possa replicar e disseminar essas informações que vão ser passadas aqui hoje para as futuras gerações, pois elas irão mudar muito do que passamos”.

A presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB SP, Rosana Rufino, enfatizou que a semana não é um evento isolado no calendário da Secional, mas sim o reflexo de um comprometimento na preservação da história negra. “Estamos falando aqui de um compromisso político da instituição do Direito de ser um instrumento vivo pela luta antirracista”, disse, ao também mencionar a importância de traduzir tais ações em políticas institucionais concretas.
A dor e desigualdade que até hoje reverberam na população negra são motivos, segundo a presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão no Brasil, Cristiane Natachi, para que mais ações como essa sejam realizadas pelas instituições. “Precisamos de espaços como o da OAB SP para trazer a verdade, o intelecto e a força do nosso povo. Revisitamos lugares que não são turísticos, mas sim de dor dos nossos ancestrais”.
A história foi levada aos presentes com a palestra de Mabel de Souza, que com sua importante pesquisa, rompe o silêncio imposto às pessoas negras escravizadas a partir de instrumentos de suplício. “O que temos aqui são provas irrefutáveis da engenhosidade perversa da época”, contou. A pesquisa de Souza, que conta com o maior acervo de peças de suplício do país, ficou exposta na sede da Ordem paulista de 19 a 24 de maio. “A memória é um ato político, que cada pessoa aqui presente se torne guardiã dessa memória”, falou.
Na abertura da palestra, também estiveram presentes Renata Mariz (presidente da AASP), Marcus Seixas (presidente do Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo), Simone Henrique (coordenadora do Departamento de Educação em Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo) e José Adão de Oliveira (co-autor do Movimento Negro Unificado).
Caminhada educativa
Em um percurso saindo da sede da Secional paulista até a Igreja dos Aflitos, no bairro da Liberdade, a 3ª edição da Caminhada Educativa - Chão dos Nossos Ancestrais percorreu locais emblemáticos da história negra. Guiados por Lucas Almeida, monitor do Museu dos Aflitos, locais importantes para a advocacia, como a Praça João Mendes, que abriga o Fórum João Mendes, foram ressignificados com uma história pouco conhecida.
O bairro, popularmente conhecido pela cultura oriental, abriga uma das principais estruturas de memória negra do Brasil, a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, construída em 1779, e que agora passa por reforma. Além da capela, a estátua da ativista negra e sambista, Madrinha Eunice, está presente na Praça da Liberdade (antigo Largo da Forca), olhando na direção à Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados.