Para muitos advogados, a vida profissional começa com o ingresso na faculdade. Para outros, nasce de um sonho, de uma idealização em que o amor pelo Direito conduz uma jornada que atravessa décadas. Foi assim com o advogado Tarcio Paulo Dias Papa, de 81 anos, que sempre enxergou o Direito como “uma área muito bonita e necessária, quando exercida eticamente” e que acredita que “conhecimento não tem idade”. No dia 20, ele recebeu sua carteira da OAB, representando a Secional Paulista, em uma cerimônia emocionante que marcou a realização de um antigo sonho: o de advogar.
Uma trajetória marcada pela dedicação e coragem em recomeçar
Natural de Palmital, no interior de São Paulo, sua primeira graduação foi na Escola de Engenharia de São Carlos, pela USP, em 1967, com especialização em Hidráulica e Saneamento Básico e Ambiental, em que atuou por mais de 50 anos, também como consultor, passando por 23 estados brasileiros e 12 países. Em 1968, se mudou para a capital paulista. Casado há mais de 55 anos, pai de três filhos e avô de dois netos, sempre contou com o apoio dos familiares e após anos, decidiu realizar um antigo desejo: estudar Direito. Em 2020, aos 76 anos, ingressou na Faculdade de Direito da PUC-SP e retornou aos bancos universitários.
Experiência como aluno em direito, após 50 anos: “Conviver com jovens renova a sua mente”
Durante os cinco anos de curso, manteve média superior a 8,5, citando o respeito pelos colegas, professores e funcionários: “Fui muito bem recebido, sem qualquer etarismo. Conviver com jovens renova a sua mente”, recorda. A aprovação no Exame da Ordem veio já no primeiro concurso que prestou, antes mesmo da conclusão da graduação, uma conquista que ele define como a confirmação de que estava no caminho certo.
Carteira da Ordem: símbolo de reconhecimento e dever cumprido
Em 2024, se formou oficialmente e, aos 81 anos, recebeu a carteira da OAB SP: “A solenidade me deixou amparado. Foi emocionante viver isso”. Tarcio demonstra especial interesse por Direitos Humanos, Direito Internacional e Processual, destacando a importância de preservar valores democráticos. Tendo vivido o período da ditadura militar de 1964 a 1985, enfatiza o papel do advogado na defesa do Judiciário, e deixa um recado para a jovem advocacia: “A democracia tem falhas, mas ainda é o melhor sistema de governo, preservá-la é fundamental”, emocionado, reforçou essa fala, citando o presidente da OAB SP, Leonardo Sica, que eu seu discurso, na cerimônia de entrega da sua carteira, defendeu o Estado Democrático de Direito.
Convicto de que a advocacia deve estar aberta também às experiências, principalmente para quem já possui um vasto conhecimento, avalia e reforça que a pessoa idosa deve ser reconhecida como “força de trabalho e não apenas como aposentada”. Para ele, é necessário o incentivo, principalmente na legislação: “Temos muita capacidade de contribuir com o desenvolvimento do país”. Mais do que uma conquista pessoal, sua entrada na advocacia se tornou um exemplo inspirador.
