Direitos Humanos

22 de outubro de 2025 - quarta

OAB SP promove cine-debate sobre identidade indígena e retomada étnica

Documentário ‘Reconstruindo a História’ destaca a trajetória da Cacica Jaqueline Haywã Pataxó Hã Hã Hãe e reforça o papel da Secional Paulista na proteção e garantia dos direitos indígenas em São Paulo


A OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo) promoveu nesta terça-feira (21),  o Cine-debate que apresentou o documentário “Reconstruindo a História”, sobre a trajetória da Cacica Jaqueline Haywã Pataxó Hã Hã Hãe. A exibição foi seguida de uma roda de conversa sobre identidade e retomada étnica. O evento foi promovido pela Comissão de Direitos Humanos, por meio do Núcleo de Comunidades Indígenas e Quilombolas, e teve como objetivo aproximar a advocacia paulista da realidade dos povos originários.

A coordenadora do Núcleo Giovanna Bolletta ressaltou a importância de reconstruir narrativas apagadas pela colonização e pelo etnocídio. “É importante trazermos essa questão de retomada étnica e reconstrução da história. Muitos dos retirantes nordestinos que chegaram a São Paulo são, na verdade, indígenas deslocados de suas terras. Para nós, enquanto Ordem dos Advogados, a cidadania tem como elemento fundamental o pertencimento, e jamais podemos esquecer o pertencimento dos povos indígenas e toda a questão ancestral que se firma aqui no município de São Paulo”. 

Para Bolletta, “a base da cidadania muitas vezes é inexistente na seara indígena”. Segundo a coordenadora, essa realidade reflete um processo histórico de exclusão e silenciamento que ainda persiste no país. “O Brasil é terra indígena. Foram séculos de exploração que moldaram uma falsa ideia de democracia racial”, refletiu. 

A trajetória da Cacica Jaqueline Haywã Pataxó Hã Hã Hãe é marcada pela força e pela resistência de quem decidiu reconstruir uma história silenciada. Ao narrar o processo de retomada étnica de seu povo, ela revela as feridas abertas pela colonização e pela negação da identidade indígena: “Onde moramos não podia falar índio, era uma palavra proibida”, recorda, ao descrever um contexto de apagamento cultural e medo. Durante muito tempo, tudo era vivido em segredo, a língua, os costumes, as tradições,  pois a sobrevivência exigia silêncio.
Jaqueline relata como transformou o medo em mobilização. “Nem sempre estar em um território protegido significa estar seguro.” Determinada a garantir os direitos de seu povo, ela passou a buscar políticas públicas no ABC Paulista, lutando não apenas pela terra, mas pela própria identidade. “Não foi só o território que tomaram da gente, mas sim quem somos.”

“Elas existem e querem ter voz”, disse o produtor cultural e diretor do documentário, Flávio Marin, que explicou que a construção do longa nasceu de um processo de escuta e diálogo profundo. Segundo ele, o objetivo foi garantir que a narrativa expressasse de forma autêntica a força, a dor e a resistência dos povos originários: “A narrativa nasce de pessoas que foram expulsas de suas terras, mas que continuam firmes na defesa da própria existência”.  
 


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